POLÍCIA ESPANCA SINDICALISTA E IMPEDE MARCHA DOS FUNCIONÁRIOS DE LUANDA
UMA MINISTRA DA SAÚDE ENTRE “REALIZAÇÕES INÉDITAS” E “ARRASTOS NEGATIVOS”

Por: Carlos Alberto (Jornalista e director do Portal “A DENÚNCIA”)
Todos os “esforços” – o que, na verdade, traduzindo as “aspas”, são obrigações que a lista-candidata do MPLA às eleições de 2017-2022 se propôs cumprir no seu programa de governação de Angola – do Executivo, com João Lourenço à testa, no que concerne à performance do departamento ministerial da Saúde, é sempre encarado, pelo que lemos dos governados, e, com alguma razão, fora comentários populistas, como “realizações inéditas” versus “a mesmice do passado”.
José Eduardo dos Santos abandonou um navio, quando podia tê-lo deixado mais cedo, após o alcance da Paz em 2002, um comandante com mais margens para contornar ventos turbulentos que servissem para se desviar do choque inevitável contra um icebergue que provocaria um caos em todos os sectores do país, com uma Saúde desacreditada, tanto ao nível da qualidade dos Recursos Humanos quanto ao “modus faciendi” de se cuidar da Saúde dos cidadãos residentes em Angola.
Temos cada vez mais pedidos para que se “corte” a cabeça da ministra da Saúde Sílvia Lutucuta, principalmente pela forma como o Executivo decidiu encarar a luta contra a Covid-19, com Decretos Presidenciais questionáveis, o que, certamente, diga-se, acabou por “comer” o programa de governação de João Lourenço e, nos últimos tempos, a forma como encarou as negociações com as exigências do caderno reivindicativo da classe médica, que chegou mesmo a entrar em greve, com consequências negativas para os pacientes.
Porém – embora eu também esteja no leque dos que acham que faltou mais criatividade por parte do Ministério da Saúde nos casos apontados-, temos de reconhecer que é justamente na vigência de Sílvia Lutucuta que o Executivo conseguiu instalar novos centros de hemodiálise nas províncias de Luanda, Cabinda e Benguela, algo caricato!
Pela primeira vez no país, foram construídos Centros de Hemodiálise e um Centro Especializado de Tratamento de Endemias e Pandemias. Pela primeira vez, temos um hospital de tratamento de doenças respiratórias, sem falar da entrada, de raiz, dos hospitais da Catapa no Uíge e Walter Strangway no Bié. É também com Sílvia Lutucuta que se criou a maior unidade de cuidados intensivos pediátricos da história do país no Hospital David Bernardino. São factos. Se tudo isso funciona na sua plenitude é outra discussão, que não dependerá só da “boa vontade” da ministra da Saúde.
A ministra de um “sorriso natural”, mesmo em situações menos boas, também conseguiu fazer actualização de carreiras na área de saúde (pelo que se noticiou); realizou um concurso de integração de novos quadros para o sector recentemente que serviu para enquadrar 26 mil quadros e 7 mil e 500 estão na lista para serem enquadrados na função pública, para reduzir o défice de 100 mil profissionais da Saúde para 30 milhões de habitantes contra 1 médico para mil habitantes – uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). São factos.
Questiona-se sobre as medidas contra a transmissão da Covid-19 que o país implementou mas Angola foi o primeiro país em África a implementar medidas de confinamento para cortar a cadeia de transmissão do vírus Sars-Cov-2. Se funcionou na sua plenitude também é outra discussão que ultrapassa o Ministério da Saúde.
É verdade que se podia fazer mais, mas não é menos verdade, e temos de sublinhar com a nossa honestidade intelectual, que esses feitos são um facto. Portanto, como angolano que sou, não posso aceitar que se peça a cabeça da ministra Sílvia Lutucuta, como se fosse a causadora de todos os males da Saúde em Angola, da maneira como está a ser feito, com muito populismo e emotividade à mistura, como se não tivesse feito nada ao longo do seu mandato.
Penso que devemos sempre criticar o Executivo para se melhorar, sim, mas também devemos ter a nobreza de carácter para reconhecer os feitos de cada responsável do Governo, por mais que não gostemos da cor dos seus olhos. Nós não devemos atacar pessoas singulares. Devemos atacar causas plurais, o que é difícil acontecer na “febre populista” desses tempos.