POLÍCIA ESPANCA SINDICALISTA E IMPEDE MARCHA DOS FUNCIONÁRIOS DE LUANDA
PORTUGAL TEM DINHEIRO A MAIS OU FOME A MENOS?

Se um dia um agricultor angolano tivesse de fazer greve de fome em Angola porque o Estado lhe empatou a vida, impediu que pudesse ter a sua lavra para o cultivo de alimentos, seria sinal de que, então, não há fome no país, há dinheiro a mais em Angola para sustentar as famílias mais carenciadas. Já estamos aqui até a imaginar como seriam as manchetes nos grandes jornais portugueses contra o Governo Angolano.
Temos estado a acompanhar o caso do agricultor português em greve de fome junto ao Palácio de S. Bento em Lisboa, Portugal, o que nos tem levado a uma questão de fundo sobre até que ponto na disputa de dinheiro fácil se descura os interesses de uma nação.
Parece que Portugal é dependente do conhecimento e astúcia dos estrangeiros para alavancar a sua própria economia e sustentabilidade.
Claramente, pelo que apurámos na zona onde está a quinta do agricultor português e da sua sócia, há todo um monopólio de produção de frutos silvestres e projectos agrícolas dependentes de fundos da União Europeia, que, de certa forma, acabam por ter que ser pagos por todos os contribuintes portugueses.
Conseguimos falar com uma pessoa local que nos contou, de forma resumida, a malograda história de quem decidiu um dia regressar às suas origens, com vontade de criar postos de trabalho numa zona empobrecida e descurada pelo êxodo da sua população.
Luís Dias e a sua sócia Maria José entregaram-se de corpo e alma a um projecto ambicioso de começar um sonho a partir do quase zero. Com heranças e poupanças, sabendo que existiam apoios para investirem no projecto, acreditaram que seria seguro avançar para a plantação de bagas de góji e amoras, até mesmo porque apresentavam um modelo de negócio com risco praticamente nulo, razão essa que lhes deu pareceres favoráveis e aprovações iniciais das instituições envolvidas em toda esta história.
Como tinham que fazer bem as contas, até porque nunca se viu ostentarem qualquer tipo de sinais de riqueza, com os direitos que tinham, contratualizaram o arrendamento dos terrenos, com a junta de freguesia, de 17 hectares, com barragem, em nome dos dois.
Fizeram estudos por conta própria, viajaram para o Norte da Europa e identificaram um nicho de mercado que viabilizava o seu negócio por via da exportação.
De boa-fé, sem pretenderem interferir com as empresas locais da região e que já estavam instaladas há mais tempo, contactaram empresas locais no sentido de desenvolver eventuais parcerias. Procuraram sempre tentar ser o mais auto-suficientes possível.
Avançaram com projectos separados, no mesmo terreno, no sentido de optimizar recursos. O Luís tinha as bagas de góji a seu cargo e a Maria José as amoras.
Quando questionados sobre por que nunca constituíram uma empresa em nome dos dois, a resposta foi a de que os custos eram elevados e não tinham muito tempo para o fazer. Nos empréstimos que fizeram ao banco deram garantias pessoais, o que possibilitava o projecto tornar-se mais célere.
Assim foi. O projecto do Luís foi o primeiro a ser aprovado, com apoios no valor de 100 mil EUR, com um parecer do técnico avalista a rasgar elogios ao projecto. Estava tudo no bom caminho, até que, quando o director do serviço de investimentos Fernando Delgado começou a criar condicionantes e entraves a todo o processo.
Era um projecto ambicioso e que começou a dar nas vistas. O terreno é muito bom e a zona tem estado a ser alvo de muito investimento quer nacional quer estrangeiro. Até porque do ponto de vista geoestratégico faz fronteira com o vizinho país: Espanha. Tem vantagens a vários níveis.
O financiamento dos 100 mil euros passou para 7 mil. O Projecto da Maria José começou a ter muitos entraves, nomeadamente garantias “pré-contratuais” que, de acordo com as várias instâncias bancárias a que recorreram, foi difícil de entender.
Em resumo, pediam 110% sobre o valor do fundo para um projecto de risco quase nulo, de avaliação de 20 valores. Ora, pedir garantias de 110% sobre o valor do fundo pedido, para quê recorrer a fundos então? Para o caso de correr mal terem garantias? Mas a avaliação do projecto apresentava risco quase nulo.
Assim que a sócia Maria José iniciou o seu processo de reclamação, o financiamento aprovado do Luís passou de 100 mil para 7 mil e foi um impasse constante que durou cerca de 18 meses, até que levantassem as tais condições de garantias pré-contratuais, para que pudessem andar com o projecto para a frente. Luís e sua sócia trabalharam com mais de 200 mil euros de capitais próprios, que se foram gastando em burocracias, advogados e tribunais, sufocando o bom desenvolvimento do projecto.
Quando aconteceu a tempestade e solicitaram apoio, receberam um “não reconhecimento climatérico adverso”. Ao que parece serviu de contraditório numa reportagem da RTP no programa 6.ª às 9 onde outro fenómeno local pareceu servir de notícia de reconhecimento de situação climatérica adversa, razão que mais tarde lhes foi dada pelas instituições envolvidas em elaborar os relatórios sobre o assunto.
Constatámos que são inúmeros os casos de histórias semelhantes a esta: entraves a quem tem direito; facilidades a quem é mais bem relacionado ou mais esperto.
Percebemos que, afinal, a dependência de fundos vindos de terceiros também pode criar maus hábitos e gerar muitas dependências, afastando-nos do empenho em satisfazer as nossas necessidades básicas, que por ganância e inveja se trava a vida daqueles que dela querem fazer como mandam as regras sociais.
Serve-nos este exemplo para uma reflexão sobre as heranças que ainda hoje se importa do ex-colono (Angola) ou devemos tomar isso como um mau exemplo que se deve evitar, mas que ninguém tem coragem para o abordar devido a uma cobardia generalizada?
O Portal “A DENÚNCIA“, em Angola, vai continuar a acompanhar este caso do Luís e da Maria com as suas devidas ilações.
Tudo indica, para já, que Portugal tem dinheiro a mais ou fome a menos.